segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dia 30

Que os dias 30 tragam sempre muita sorte.

Dia 30 de novembro é início do ano com 23 anos. É também início do ano que pulei o verão, a ordem natural das quatro estações. O fato de ter saído de um “inverno” para um outono e logo em seguida ver chegar um outro inverno (esse que não é entre aspas) me inquieta um pouco. Essa ordem não faz muito sentido, está faltando um verão aí nessa seqüencia.

De uma semana para cá parece que o inverno está lutando contra o outono e ganhando a batalha. Ele quer se firmar e está conseguindo, como tem que ser. A última semana que fez sol (sem o calor correspondente, apenas um friozinho mais ameno) foi a semana do meu aniversário. Um belo presente.


Agora o outono está se despedindo e o inverno se insinuando com gotas de chuva gelada. Mas já era tempo dessa troca acontecer, já estamos entrando em dezembro, o mês do natal, da neve, do frio. E a árvore que balançava fazendo barulho de mar na frente da minha janela já não tem mais tantas folhas para balançar.


Hoje o dia está nublado e cinza. Pode chover a qualquer momento, aí lembro que

quando o céu estiver preto
e das nuvens até as sombras assombram
é só reflexo do que está acontecendo
só está faltando fósforo, me dê aí
Não esqueça que nesse momento
o vento sacode as árvores
e o clima que fica, e o ar agitado
dizendo tudo o que pode acontecer...
Não escureça nem esquente a cabeça,

Eu sei que EU tenho argumentos de querer o SOL pra pegar minha praia.

Afinal de contas, eu pulei o verão! E a coisa mais importante desse dia 30 é que estou começando um ano em que pulei o verão, e isso é, no mínimo, uma experiência. Por isso vou como estou porque só o que pode acontecer é os pingos da chuva me molhar.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dia desses comecei a fazer o trabalho de iniciação ao diagnóstico urbanístico. Com direito a reunião de grupo, visitas de campo, levantamento dos usos da área, e tudo aquilo que já fiz tanto no Brasil.


Depois de tantas visitas à Villeurbaine já consigo entender o bairro e sua dinâmica, e identificar qualquer coisa só de olhar a UNIBASE rapidamente. Depois de perceber isso, pensei que talvez eu devesse fazer o mesmo aqui no bairro onde eu moro, não com o objetivo de elaborar um trabalho pra faculdade, e sim para conhecer meu habitat de verdade. Até porque, tenho certeza, é um bairro bem mais interessante que Villeurbaine, com mais espaços livres, recantos, esquinas que encantam...

Já faziam alguns meses que eu não trabalhava de verdade. Desde PU4, PA8, ISH... abri o AutoCAD para trabalhar em cima dos mapas de Villeurbaine. Sentada na minha bancada aqui no quarto paralisada e concentrada no computador, com Paulinha do meu lado no computador dela, começamos as 5h da tarde mais ou menos, hachuras, polilines, cheios e vazios, layers, tudo outra vez.

Por volta das 9h da noite eu achei que eu estava no Brasil, que tinha entrega de PU, que tudo estava igual, que a França nunca existiu, que eu em Lyon nunca existi, que meus vizinhos nunca existiram, que esse prédio onde eu moro nunca existiu, que os brasileiros que eu conheci aqui nunca existiram, que foi tudo um sonho.

Foi um sentimento forte e estranho, e me deu um susto. Segundos em que sei o que senti, mas que ninguém pode imaginar o que foi exatamente.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Andei notando minha pele mais branca que o normal...
A minha saudade de hoje expressa aqui é a saudade do bronze. Eu tô com falta de sol.

Eu gosto do sol que arde colhe que descasca a pele das costas

Eu gosto do sol que seca quara racha que derrete o suor da roupa

Eu gosto do sol que o brilho segue magnificamente e colore as coisas

Às vezes, nas noites de ventania, a árvore em frente à janela do meu quarto balança com força, as folhas todas em festa fazendo barulho, um som que me lembra muito o barulho de beira de mar. É só fechar os olhos e posso até achar que tô numa casa da praia, as ondas quebrando suave e os coqueiros balançando. É bom. No outro dia o céu já vai estar claro às 4:30 da manhã, a maré baixa, vou acordar cedo e colocar o biquini, pegar um bronze. Aí durmo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Acabo de terminar de ler um livro que me foi trazido a pedido meu. Não podia ter havido uma leitura melhor para o momento, tendo em vista o seu tom completamente descontraído. Foi leitura boa, e eis o livro:

Outubro tive uns dias de férias e eis que fui dar umas voltas por aí. Dias excelentes de viagem, mas foi bom voltar pra casa, já tava querendo minha casinha. E continuo querendo...

Ultimamente notei que minha unha está crescendo muito rápido. Entre novembro e fevereiro sempre foi assim, e eu jurava que era culpa do calor que acelerava alguma coisa em mim. Agora posso constatar que minha teoria estava errada. Digo, minha unha não cresce mais rápido por causa do calor, mas pode ser que ainda haja alguma verdade na teoria de que o calor acelera alguma coisa em mim, que não o crescimento da unha...vai saber.

Falando nisso, uma coisa curiosíssima tem acontecido também com minhas unhas, elas perderam todas as machinhas brancas que tinham, aquelas que, diz o dito popular, significam que a pessoa disse alguma mentira. Ou aqui eu sou muito sincera, ou alguma coisa mudou no meu organismo fazendo assim sumirem todas as manchinhas. Eu que sempre tive no mínimo uma manchinha em cada uma das dez unhas da mão...

Tenho também estado um tanto quanto Estabanada. Esse adjetivo com E maiúsculo inclui os adjetivos atrapalhada, desastrada, esquecida, desorientada e distraída. Ando meio desligada e je suis un peu mal à droit.

Tenho por perto sempre um post-it com alguma coisa banal pra me lembrar, um pequeno afazer a ser feito, uns números de telefone, emails e senhas anotados, umas palavras recém-traduzidas pra ver se me lembro de colocar no meu vocabulário, como essa aqui estampada num post-it verde-limão bem aqui na minha cara: Paresse.

O que não precisa de post-it é esse tubo de vitamina C sempre do meu lado, olhando pra mim oferecido. Todo dia. E com muita precisão. Com esse frio que ta fazendo (hoje média de 4º) vai saber o problema que dá na pessoa que nasceu e se criou no calor (pegando assim apego e afeição por ele).

O frio tem um semblante triste sim. Por mais que a pessoa esteja feliz dentro do frio, não dá pra não reparar na sua tristeza. É ele, o frio, quem é triste. Aí como o problema é dele, todo dia depois do almoço faço uma caneca de café bem quente e bebo pensando na tristeza que é essa falta de cor e calor. Mas a pessoa começa pensando nesse singelo pensamento e quando vê já ta pensando demais na vida. Aí olho um post-it e peço licença ao frio porque não quero mais ficar com pena dele.

Mas um cafezinho depois do almoço sempre vai bem.

Uma coisa que não muda, esteja eu onde estiver, é essa vontade de ficar chez moi quando dá aquela horinha crítica do dia. Sempre aquela horinha crítica que me puxa pra minha vida, pra minha casa, pra mim. Das 16h às 18h eu sempre sinto uma coisa. Mas isso não é de hoje. Meu momento preferido que chamo carinhosamente de ‘minha horinha’.

Ouvir João Bosco aqui surgiu como uma vontade doida. Completamente a partir de nada visível ou audível. Não vi a foto dele em canto nenhum e nem ouvi alguém cantarolar alguma música dele. Talvez eu tenha me lembrado de alguma coisa que faz alusão, não sei... lembrança aqui rola solta mesmo, deve ter sido. Só deu uma vontade louca e corri pra

Pedra que lasca seu brilho
E que queima no lábio um quilate de mel
E que deixa na boca melante
Um gosto de língua no céu
Luz talismã misterioso cubanacã
Delícia sensual de maçã
Saborosa manhã
Vou te eleger vou me despejar de prazer
Essa noite o que mais quero é ser
mil e um pra você

E pra deixar a saudade expressa, senti aquela falta rápida e profunda de um monte de coisas, melhor nem listar. Mas dessa vez senti falta, sobretudo, de um sábado de manhã na minha casinha com janela pro jardim onde as folhas não ficam laranja e as árvores não ficam nuas, onde posso abrir a janela pra entrar uma brisa e deitar na rede ou na cama pra ler um livrinho... minha estante. Senti falta da minha estante.


Inevitável não me lembrar de Manuel Bandeira em Última Canção do Beco:

“Vão demolir esta casa.
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!”