terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amanheceu nevando e foi um susto. Eu realmente já estava achando que a temporada da neve tinha acabado. Houveram, esse mês, alguns dias ensolarados (porém gelados) que me davam a falsa impressão (que ilusão) de que ao abrir a janela ia entrar no meu quarto uma brisa morna. Mas hoje amanheceu nevando. Levantar de manhãzinha assim é ruim, mas levantar é preciso, então...

Da janela da sala de aula os flocos caiam leve, como se estivessem em câmera lenta. Uma velocidade que insultava a velocidade da aula e sua excessiva quantidade de informações por minuto. Obviamente minha atenção quis se desviar o tempo todo para ela, a janela com neve caindo. Justo na minha aula preferida.

No início da tarde, com a temperatura mais alta, percebi que a neve ficava querendo virar chuva, e por fim achei que aquilo era mesmo uma mistura de neve com chuva, onde a parte chuva cumpria bem seu papel de molhar as coisas, e a parte neve cumpria não muito bem seu papel de se acumular sobre as coisas, se derretendo fácil. Mas ao chegar em Sain-Just, o bairro onde moro que fica alguns metros acima do nível da cidade, tudo estava branquinho. Aqui a neve cumpre bem seu papel. Ou: aqui é mais frio.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Dia 30

Que os dias 30 tragam sempre muita sorte.

Se ‘tudo no mundo começou com um sim’, tudo na vida acontece por causa de um sim. E no dia 30 de janeiro é preciso dizer sim ao ano inteiro que se tem pela frente, aos dez dias 30 que virão, sem deixar de abrir uma exceção ao 28 de fevereiro. É muito mês pela frente e muita coisa boa que virá, muita felicidade. Um brinde!

O dia 30 de janeiro merece um brinde também aos últimos cinco dias 30 da minha vida, e toda a felicidade acumulada. Felicidade foi conhecer a neve, felicidade foi descobrir mundos, aprender coisas, encontrar e conhecer pessoas. Felicidade foi ter um dever cumprido, felicidade foi ouvir ‘águas de março’ tocando no metrô de Lyon. Felicidade é viver em Lyon, felicidade é...felicidade é.

A coisa mais importante desse dia 30 é que eu o dedico à felicidade.

“Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.” C.L.

(...) ainda bem que sou nordestina.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Aqui

É bem bonito.
Eu já gosto muito de Lyon.
(fotos de Luiz - Lyon em novembro)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Descobrindo o frio e a neve.

Para um estrangeiro vindo de um país tropical, viver na neve até que é fácil: basta usar a roupa e o sapato adequados. Mas isso se descobre gradativamente. Antes é preciso algumas experiências de como não se viver na neve com roupas e sapatos inadequados.

Antes eu achava que neve era tudo igual, neve é neve, floquinho de gelo caindo do céu. Até que uma amiga russa me explicou que não, e de neve ela entende. Abriu a janela do quarto e, respirando fundo o ar de uma noite fria no dia que começou a nevar em Lyon, disse “é, começou a nevar, é cheiro de neve.”

Depois me explicou que a neve do campo é diferente da neve dos centros urbanos, porque os ares são diferentes. Disse que tem neve mais fofinha, neve mais agressiva, floco pequeno, floco grande, pingos de chuva congelados, e que a neve em Lyon é bem diferente da neve em Moscou. E me mostrou fotos de Moscou com neve e de uma região afastada de Moscou com neve. De fato é diferente.

Neves depois, eu descobri sozinha outras coisas: que a neve alegra - e muito - o inverno; que quando neva, a neve se acumula bem fofinha no chão, e depois de uns dias ela vai virando gelo e escorrega muito; que de noite quando bate luz no chão coberto de neve, ela brilha como se tivessem jogado um pouco de gliter nela; que quando a neve vai descongelando e sumindo é bem feio, uma contradição com a beleza das coisas todas branquinhas; etc, etc...

Mas eu ainda não sei reconhecer cheiro de neve. Já de maresia eu entendo, é cheiro de mar. E boneco de neve eu nunca fiz, ajudei a fazer uns dois, mas sem muita desenvoltura. Já castelo de areia na praia, isso eu sei fazer, e com primor. Agora eu sei que existem duas maneiras bem diversas de se divertir na infância: como criança da neve, e como criança da praia. Eu fui uma criança da praia, que bom.

Engraçado que essa minha amiga russa me disse, depois de explicar as diferentes neves, que para ela praia é tudo igual, praia é praia, areia e mar. Então foi minha vez de explicar que cada praia é diferente de outra, que as areias são diferentes, que o mar se comporta de maneiras diferentes, que a maré muda, que algumas têm sargaço e outras não, que em algumas a areia é fofa e em outras é mais dura, que algumas têm mariscos, outras estrelas-do-mar, e mostrei uma foto da praia do amor em Pipa e outra de Tamandaré. Diferentes.

Agora eu tenho dentro de mim a sensação ainda maior de que meu coração e minha pele são mesmo muito tropicalientes.

Recife às seis horas da manhã.

Lyon às dez horas da manhã do mesmo dia.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pra começar estou até me estranhando.

Precisando de inspiração para esse texto, decidi colocar alguma música que no momento me trouxesse alguma reação significativa. Escolhi num impulso natural a playlist da Inglaterra, aquilo que eu ouvi no início com estranheza e depois com muita animação durante meus 15 dias de férias: Papparazi, pokerface, Meet me halfway, Boom boom pow, Sexy bitch, Tic Tok, Bad romance, Just dance...

Oi?! Én?

Será que não se pode continuar o mesmo depois de passar por tanta coisa diferente?

Outras coisas também estão mudadas. Comecei a fazer novos desenhos numa noite de insônia e nunca mais parei. Nunca mais parei de fazer desenhos, eu digo. Já a insônia... depois da terapia dos desenhos passei a dormir até demais.

Comecei com as florzinhas habituais. E descobri que o papel e o lápis dão possibilidades diferentes daquelas com as quais eu estava acostumada com a tela e a tinta. A coisa mais diferente é o tempo do desenho, no papel é bem mais rápido.
Depois das flores comecei a ensaiar umas curvas com umas coisas escritas, qualquer coisa que viesse na cabeça, uma música, uma idéia, uma observação.

Depois das curvas vieram as ondas, os espirais, e ainda as coisas escritas... Até a descoberta da nova flor. Meio curva, meio espiral, meio planta, e as coisas escritas...

Enquanto estive de férias, além de ser contaminada pela música tocada nas boates européias e descobrir minha nova flor nos meus desenhos, eu pude usufruir de uma vida mais parecida com aquela que eu tinha em casa, em Olinda, no Brasil. Ter uma amiga-irmã brasileira ao lado como referência e um lar como abrigo me fez um bem maior do que eu imaginava.

Não consigo construir um texto coeso para explicar isso, não agora, não ainda, mas posso explicar assim:

Foi sair da matrix.

E além desse presente de fim de ano, ainda tive a felicidade gigantesca de receber as coisas que só um pai e uma mãe mesmo poderiam me enviar para enfeitar meu rosto com sorrisos de alegria. As coisinhas vindas do Brasil tiveram o poder de fazer minha volta para casa (Lyon) mais feliz e prazerosa.


Guia de viagem, livro em português (não dá pra parar de ler em português, é mais forte do que eu), brincos, florzinhas e coisinhas para o cabelo, saias e um vestido, um all star, meu café preferido... quem poderia ser mais feliz que eu?

Agora tomo café com mais prazer que antes, e ainda todos os dias duas vezes por dia, e agora com um toque de vício mais acentuado, porque tudo aqui toma proporções imensas, os sentimentos, as vontades, as reações, os vícios...

E agora até com os capuccinos estou me deliciando, visto que esse mês decidi me dar o luxo investir meu dinheiro em coisas que me fazem feliz por fazer referência à minha vida no Brasil, por isso comprei chantily e canela pra fazer capuccino, e pepino, salmão, kani e shoyo pra fazer sunomono, além de uns biscoitos de chocolate com côco que me lembram aquele meu preferido de lá.

E comprei mais cervejas que o normal porque enjoei de vinho, acho que vinho é uma coisa muito francesa para o momento.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dia 30

Que os dias 30 tragam sempre muita sorte.

Dia 30 de novembro é início do ano com 23 anos. É também início do ano que pulei o verão, a ordem natural das quatro estações. O fato de ter saído de um “inverno” para um outono e logo em seguida ver chegar um outro inverno (esse que não é entre aspas) me inquieta um pouco. Essa ordem não faz muito sentido, está faltando um verão aí nessa seqüencia.

De uma semana para cá parece que o inverno está lutando contra o outono e ganhando a batalha. Ele quer se firmar e está conseguindo, como tem que ser. A última semana que fez sol (sem o calor correspondente, apenas um friozinho mais ameno) foi a semana do meu aniversário. Um belo presente.


Agora o outono está se despedindo e o inverno se insinuando com gotas de chuva gelada. Mas já era tempo dessa troca acontecer, já estamos entrando em dezembro, o mês do natal, da neve, do frio. E a árvore que balançava fazendo barulho de mar na frente da minha janela já não tem mais tantas folhas para balançar.


Hoje o dia está nublado e cinza. Pode chover a qualquer momento, aí lembro que

quando o céu estiver preto
e das nuvens até as sombras assombram
é só reflexo do que está acontecendo
só está faltando fósforo, me dê aí
Não esqueça que nesse momento
o vento sacode as árvores
e o clima que fica, e o ar agitado
dizendo tudo o que pode acontecer...
Não escureça nem esquente a cabeça,

Eu sei que EU tenho argumentos de querer o SOL pra pegar minha praia.

Afinal de contas, eu pulei o verão! E a coisa mais importante desse dia 30 é que estou começando um ano em que pulei o verão, e isso é, no mínimo, uma experiência. Por isso vou como estou porque só o que pode acontecer é os pingos da chuva me molhar.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Dia desses comecei a fazer o trabalho de iniciação ao diagnóstico urbanístico. Com direito a reunião de grupo, visitas de campo, levantamento dos usos da área, e tudo aquilo que já fiz tanto no Brasil.


Depois de tantas visitas à Villeurbaine já consigo entender o bairro e sua dinâmica, e identificar qualquer coisa só de olhar a UNIBASE rapidamente. Depois de perceber isso, pensei que talvez eu devesse fazer o mesmo aqui no bairro onde eu moro, não com o objetivo de elaborar um trabalho pra faculdade, e sim para conhecer meu habitat de verdade. Até porque, tenho certeza, é um bairro bem mais interessante que Villeurbaine, com mais espaços livres, recantos, esquinas que encantam...

Já faziam alguns meses que eu não trabalhava de verdade. Desde PU4, PA8, ISH... abri o AutoCAD para trabalhar em cima dos mapas de Villeurbaine. Sentada na minha bancada aqui no quarto paralisada e concentrada no computador, com Paulinha do meu lado no computador dela, começamos as 5h da tarde mais ou menos, hachuras, polilines, cheios e vazios, layers, tudo outra vez.

Por volta das 9h da noite eu achei que eu estava no Brasil, que tinha entrega de PU, que tudo estava igual, que a França nunca existiu, que eu em Lyon nunca existi, que meus vizinhos nunca existiram, que esse prédio onde eu moro nunca existiu, que os brasileiros que eu conheci aqui nunca existiram, que foi tudo um sonho.

Foi um sentimento forte e estranho, e me deu um susto. Segundos em que sei o que senti, mas que ninguém pode imaginar o que foi exatamente.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Andei notando minha pele mais branca que o normal...
A minha saudade de hoje expressa aqui é a saudade do bronze. Eu tô com falta de sol.

Eu gosto do sol que arde colhe que descasca a pele das costas

Eu gosto do sol que seca quara racha que derrete o suor da roupa

Eu gosto do sol que o brilho segue magnificamente e colore as coisas

Às vezes, nas noites de ventania, a árvore em frente à janela do meu quarto balança com força, as folhas todas em festa fazendo barulho, um som que me lembra muito o barulho de beira de mar. É só fechar os olhos e posso até achar que tô numa casa da praia, as ondas quebrando suave e os coqueiros balançando. É bom. No outro dia o céu já vai estar claro às 4:30 da manhã, a maré baixa, vou acordar cedo e colocar o biquini, pegar um bronze. Aí durmo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Acabo de terminar de ler um livro que me foi trazido a pedido meu. Não podia ter havido uma leitura melhor para o momento, tendo em vista o seu tom completamente descontraído. Foi leitura boa, e eis o livro:

Outubro tive uns dias de férias e eis que fui dar umas voltas por aí. Dias excelentes de viagem, mas foi bom voltar pra casa, já tava querendo minha casinha. E continuo querendo...

Ultimamente notei que minha unha está crescendo muito rápido. Entre novembro e fevereiro sempre foi assim, e eu jurava que era culpa do calor que acelerava alguma coisa em mim. Agora posso constatar que minha teoria estava errada. Digo, minha unha não cresce mais rápido por causa do calor, mas pode ser que ainda haja alguma verdade na teoria de que o calor acelera alguma coisa em mim, que não o crescimento da unha...vai saber.

Falando nisso, uma coisa curiosíssima tem acontecido também com minhas unhas, elas perderam todas as machinhas brancas que tinham, aquelas que, diz o dito popular, significam que a pessoa disse alguma mentira. Ou aqui eu sou muito sincera, ou alguma coisa mudou no meu organismo fazendo assim sumirem todas as manchinhas. Eu que sempre tive no mínimo uma manchinha em cada uma das dez unhas da mão...

Tenho também estado um tanto quanto Estabanada. Esse adjetivo com E maiúsculo inclui os adjetivos atrapalhada, desastrada, esquecida, desorientada e distraída. Ando meio desligada e je suis un peu mal à droit.

Tenho por perto sempre um post-it com alguma coisa banal pra me lembrar, um pequeno afazer a ser feito, uns números de telefone, emails e senhas anotados, umas palavras recém-traduzidas pra ver se me lembro de colocar no meu vocabulário, como essa aqui estampada num post-it verde-limão bem aqui na minha cara: Paresse.

O que não precisa de post-it é esse tubo de vitamina C sempre do meu lado, olhando pra mim oferecido. Todo dia. E com muita precisão. Com esse frio que ta fazendo (hoje média de 4º) vai saber o problema que dá na pessoa que nasceu e se criou no calor (pegando assim apego e afeição por ele).

O frio tem um semblante triste sim. Por mais que a pessoa esteja feliz dentro do frio, não dá pra não reparar na sua tristeza. É ele, o frio, quem é triste. Aí como o problema é dele, todo dia depois do almoço faço uma caneca de café bem quente e bebo pensando na tristeza que é essa falta de cor e calor. Mas a pessoa começa pensando nesse singelo pensamento e quando vê já ta pensando demais na vida. Aí olho um post-it e peço licença ao frio porque não quero mais ficar com pena dele.

Mas um cafezinho depois do almoço sempre vai bem.

Uma coisa que não muda, esteja eu onde estiver, é essa vontade de ficar chez moi quando dá aquela horinha crítica do dia. Sempre aquela horinha crítica que me puxa pra minha vida, pra minha casa, pra mim. Das 16h às 18h eu sempre sinto uma coisa. Mas isso não é de hoje. Meu momento preferido que chamo carinhosamente de ‘minha horinha’.

Ouvir João Bosco aqui surgiu como uma vontade doida. Completamente a partir de nada visível ou audível. Não vi a foto dele em canto nenhum e nem ouvi alguém cantarolar alguma música dele. Talvez eu tenha me lembrado de alguma coisa que faz alusão, não sei... lembrança aqui rola solta mesmo, deve ter sido. Só deu uma vontade louca e corri pra

Pedra que lasca seu brilho
E que queima no lábio um quilate de mel
E que deixa na boca melante
Um gosto de língua no céu
Luz talismã misterioso cubanacã
Delícia sensual de maçã
Saborosa manhã
Vou te eleger vou me despejar de prazer
Essa noite o que mais quero é ser
mil e um pra você

E pra deixar a saudade expressa, senti aquela falta rápida e profunda de um monte de coisas, melhor nem listar. Mas dessa vez senti falta, sobretudo, de um sábado de manhã na minha casinha com janela pro jardim onde as folhas não ficam laranja e as árvores não ficam nuas, onde posso abrir a janela pra entrar uma brisa e deitar na rede ou na cama pra ler um livrinho... minha estante. Senti falta da minha estante.


Inevitável não me lembrar de Manuel Bandeira em Última Canção do Beco:

“Vão demolir esta casa.
Mas meu quarto vai ficar,
Não como forma imperfeita
Neste mundo de aparências:
Vai ficar na eternidade,
Com seus livros, com seus quadros,
Intacto, suspenso no ar!”

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Dedos gelados

Apesar de em alguns momentos ter estilado com o frio que fez essa semana, nesse exato minuto eu sinto uma alegriazinha íntima e pessoal de estar tendo a oportunidade de conhecer o frio e, sobretudo, a vida com o frio.

Eu digito esse texto com os dedos gelados, e tem sido assim ultimamente. Eu durmo depois de vestir duas calças, duas blusas e duas meias, e me forrar com 3 cobertores. Saiu de casa com duas blusas, dois casacos, cachecol, duas meias e duas calças. Lavo minhas mãos inúmeras vezes por dia para sentir a água quente esquentar meus dedos frios. E eu sinto uma alegria mansa ao me expor aos raios de sol do meio-dia.

Agora aguardo essas folhas amarelas caírem e os troncos nus serem cobertos aos poucos por uma superfície branca. O frio vai aumentar consideravelmente, mas até lá já devo estar convicta de que viver o frio até que é bom...eu já sei demais o que é o calor.

E se estou aqui para aprender, essa é só mais uma lição. Só mais uma...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Enquanto uns vão à praia... Outros se agasalham.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Dia 30

Que os dias 30 tragam sempre muita sorte.

A coisa mais importante do primeiro dia-30-de-sorte aqui é que faz um mês que estou aqui. Por hora isso me basta, ou melhor, não me basta, me transborda.

A segunda coisa mais importante do primeiro dia 30 é consequência da primeira coisa mais importante: é ter percebido que a cada tragada que dei nas minhas saudades durante esse mês, eu me enchi de um sentimento bom que é difícil de explicar, e isso também me transborda.

A terceira coisa mais importante é me sentir bem mais familiarizada com os caminhos daqui, as paisagens daqui, as ruas daqui... é saber para onde, por onde e como eu vou quando saiu de casa, e reconhecer onde estou quando ando por aí (ainda que eu não ME reconheça nas coisas). É também conhecer as partes e as coisas da cidade pelo nome, é sentir que Perrache, Bellecour, Avenue Berthelot, Quai Claude Bernard, St. Just, o 30, o 46, o 49D, Presqu'île, Vieux Lyon, Allix, G3, G4, Tête d'Or, T1, T2 e outras denominações são familiares aos meus olhos e ouvidos.

Esse dia 30 eu dedico a elas que não sabem mas estão sempre aqui no meu quarto conversando comigo, ou passeando pela cidade e ouvindo meus comentários em pensamento sobre as coisas.

Afinal de contas, foi com elas que aprendi, entre mil outras coisas importantes, o que é cidade e sua complexidade (e o quanto isso me interessa). E como uma coisa leva à outra, hoje estou aqui conhecendo - vivendo - outra cidade e aprendendo esse tal urbanismo sob outra perspectiva.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Aqui

É bem bonito.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

na minha casa você pode flagrar alguém
se escondendo da rotina num quarto escuro
ou batendo a cinza do cigarro na janela
enquanto espia as roupas dançando em silêncio
no varal da área
às três da madrugada
você pode flagrar alguém preocupado
segurando uma caneca com vinho vagabundo
dormindo fora de hora
pensando demais na vida
e no tédio que é
essa falta de paixão.

AP.
(bruna beber)


Não falo dessa minha casa, dessa que eu lembro com saudades mas com vontade de ficar. Falo dessa daqui que bate dentro de mim.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Eu quis fazer uma sopa mas não tinha batata e nem cebola pra refogar, e nem carne nenhuma pra colocar. Hoje era dia de ir no supermercado fazer as compras mas não deu tempo. Eu quis fazer uma sopa mas só tinha cenoura, jerimum e alho. Dei uma incrementada, inventei e reinventei...e não é que ficou muito boa?!

É assim na necessidade do dia a dia que eu vou descobrindo que gosto de cozinhar, e que, modestia a parte, eu levo jeito!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Sexta-feira. Eita...hoje era dia de ir pro bigode. Saudade expressa aqui.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

É que o fácil é mais sem graça

Entitulo essa postagem com essa célebre frase de elder pra explicar que a vie étudiant aqui não é fácil não, e é nisso que está toda a graça.

Diferente da minha vida no Brasil, aqui tenho que cozinhar, lavar roupa, lavar louça, passar roupa, varrer, limpar, fazer a feira da semana, lavar as frutas e verduras, arrumar tudo, forrar a cama regularmente, desempoeirar, levar o lixo lá pra baixo... além de ir pras aulas, estudar, ler, escrever no blog, responder emails e recados, fazer horinha no msn pra matar saudades... e ainda arrumar tempo pra se divertir, se distrair, sair, socializar, e ainda por cima falando francês (o que requer paciência e concentração de verdade).

Assim fica difícil, mas assim é que é bom.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Gordon Cullen e Kevin Lynch

Apesar de ter pego uns mapas da cidade no albergue e em pontos turísticos, ainda não os olhei de fato. Não quero entender essa cidade assim. Vou andando pelas ruas e tentando memorizar os caminhos a partir de marcos visuais ou qualquer outra coisa em 3D. A paisagem é belíssima de se admirar, a cidade tem muitas ladeiras, subidas, descidas, ruas tortuosas...isso dificulta a compreensão espacial, verdade, mas associar meu percurso com as linhas de um mapa me faria sentir como uma turista, e isso não sou, não aqui nesta cidade.

Confesso que ainda não sei direito como saio da minha casa, pego um metrô subterrâneo e subo em um outro ponto da cidade. Que percusso foi esse? Por onde passei?! Por hora isso não me interessa, o que interessa é que eu cheguei e que continuo dentro de uma esfera que aos poucos vou assimilando com um sentimento de pertencimento (muito diferente do que sinto em Recife e Olinda, lógico. Mas é um sentimento).

Oito horas da noite mais ou menos, e a cidade escurecendo.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Já uma coisa que é igual em qualquer parte do mundo é essa coisa chamada ressaca. Em qualquer lugar, Olinda, Garanhuns ou Lyon, cachaça em grande quantidade me dá um game over súbito, uma amnésia absurda e uma ressaca de 24 horas.

Impressões urbanísticas

Espaço público aqui é outra coisa. Transporte público também. Tudo que é público, na verdade. Público aqui é aquilo que aprendi nas disciplinas de PU e só podia imaginar e colocar em prática nos trabalhos da disciplina sem nunca nem ter visto a coisa funcionar de verdade. Eu vi por aqui... Uma praça num dia de sábado Um parquinho infantil num dia de semana à tardinha Uma beira de rio Uma feira de rua Sem falar no tratamento que se dá aos pisos, calçadas, subidas, descidas, canteiros, etc. É uma coisa que meus olhos de quase arquiteta-urbanista captam com uma percepção diferente.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Depois de despedidas e saudades por antecipação, agora sinto uma sensação que me parece ser saudade de verdade... mas ainda não sei se é isso mesmo. É muita coisa pra sentir ao mesmo tempo, fica difícil identificar o que se passa.
Depois de uma noite e uma madrugada inteiras viajando e tentando achar uma posição menos desconfortável do que todas as posições desconfortáveis já tentadas, fui feliz ao acordar pela milésima vez e sentir que estava amanhecendo. Só não lembro como eu percebi, mas abri um pouco a janela pra conferir e de fato estava. O avião já sobrevoava alguma parte do mundo mais próxima da Europa que da América.

Fiz desembarque e imigração em Madrid, e passei um dia inteiro ouvindo pessoas falar espanhol. E apesar de compreender, não consegui me comunicar. Aquele Terminal 4 de Richard Rogers tem uma beleza e uma vastidão assustadoras. Pé direito alto demais para fazer uma estrangeira solitária se sentir acolhida. Eu só queria meus pais, só queria ligar para o Brasil, pero en español es un poco complicado para mi. Mas consegui, felizmente.

Cheguei em Lyon à noite, e depois de um ônibus e um táxi pude me (mal) instalar no albergue para dormir e resolver coisas no outro dia. Essa parte de resolver coisas é de fato um desafio. Um desafio que se prolongará até não sei quando. Ao menos já consegui resolver em um dia a parte de moradia e transporte, mas foi um loooongo dia que se concentra agora numa forte dor nos ombros. Mas já tenho a chave da minha casinha, e mais que isso, um teto.

sábado, 1 de agosto de 2009

W3 sul

Dessa vez vim à Brasilia sozinha. A missão foi simples: buscar meu visto na embaixada. Visto em mãos no dia 30 de julho de 2009, viagem marcada para dia 30 de agosto de 2009, e validade do visto até o dia 30 de agosto de 2010. Que os dias 30 tragam muita sorte.

Esse blog começa agora, exatamente um mês antes da chegada em Lyon. As saudades já estão no peito esperando para chover... saudosa que sou. Mas há também a imensa vontade de aproveitar cada segundo perto dos que me fazem tão bem.

Estou em Brasilia, com um visa français colado no passaporte, pronta para voltar pra Recife. Por aqui tudo continua longe. Só a W3 sul me consola, essa avenida e suas superquadras, minha asa preferida.