terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amanheceu nevando e foi um susto. Eu realmente já estava achando que a temporada da neve tinha acabado. Houveram, esse mês, alguns dias ensolarados (porém gelados) que me davam a falsa impressão (que ilusão) de que ao abrir a janela ia entrar no meu quarto uma brisa morna. Mas hoje amanheceu nevando. Levantar de manhãzinha assim é ruim, mas levantar é preciso, então...

Da janela da sala de aula os flocos caiam leve, como se estivessem em câmera lenta. Uma velocidade que insultava a velocidade da aula e sua excessiva quantidade de informações por minuto. Obviamente minha atenção quis se desviar o tempo todo para ela, a janela com neve caindo. Justo na minha aula preferida.

No início da tarde, com a temperatura mais alta, percebi que a neve ficava querendo virar chuva, e por fim achei que aquilo era mesmo uma mistura de neve com chuva, onde a parte chuva cumpria bem seu papel de molhar as coisas, e a parte neve cumpria não muito bem seu papel de se acumular sobre as coisas, se derretendo fácil. Mas ao chegar em Sain-Just, o bairro onde moro que fica alguns metros acima do nível da cidade, tudo estava branquinho. Aqui a neve cumpre bem seu papel. Ou: aqui é mais frio.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Dia 30

Que os dias 30 tragam sempre muita sorte.

Se ‘tudo no mundo começou com um sim’, tudo na vida acontece por causa de um sim. E no dia 30 de janeiro é preciso dizer sim ao ano inteiro que se tem pela frente, aos dez dias 30 que virão, sem deixar de abrir uma exceção ao 28 de fevereiro. É muito mês pela frente e muita coisa boa que virá, muita felicidade. Um brinde!

O dia 30 de janeiro merece um brinde também aos últimos cinco dias 30 da minha vida, e toda a felicidade acumulada. Felicidade foi conhecer a neve, felicidade foi descobrir mundos, aprender coisas, encontrar e conhecer pessoas. Felicidade foi ter um dever cumprido, felicidade foi ouvir ‘águas de março’ tocando no metrô de Lyon. Felicidade é viver em Lyon, felicidade é...felicidade é.

A coisa mais importante desse dia 30 é que eu o dedico à felicidade.

“Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.” C.L.

(...) ainda bem que sou nordestina.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Aqui

É bem bonito.
Eu já gosto muito de Lyon.
(fotos de Luiz - Lyon em novembro)

domingo, 17 de janeiro de 2010

Descobrindo o frio e a neve.

Para um estrangeiro vindo de um país tropical, viver na neve até que é fácil: basta usar a roupa e o sapato adequados. Mas isso se descobre gradativamente. Antes é preciso algumas experiências de como não se viver na neve com roupas e sapatos inadequados.

Antes eu achava que neve era tudo igual, neve é neve, floquinho de gelo caindo do céu. Até que uma amiga russa me explicou que não, e de neve ela entende. Abriu a janela do quarto e, respirando fundo o ar de uma noite fria no dia que começou a nevar em Lyon, disse “é, começou a nevar, é cheiro de neve.”

Depois me explicou que a neve do campo é diferente da neve dos centros urbanos, porque os ares são diferentes. Disse que tem neve mais fofinha, neve mais agressiva, floco pequeno, floco grande, pingos de chuva congelados, e que a neve em Lyon é bem diferente da neve em Moscou. E me mostrou fotos de Moscou com neve e de uma região afastada de Moscou com neve. De fato é diferente.

Neves depois, eu descobri sozinha outras coisas: que a neve alegra - e muito - o inverno; que quando neva, a neve se acumula bem fofinha no chão, e depois de uns dias ela vai virando gelo e escorrega muito; que de noite quando bate luz no chão coberto de neve, ela brilha como se tivessem jogado um pouco de gliter nela; que quando a neve vai descongelando e sumindo é bem feio, uma contradição com a beleza das coisas todas branquinhas; etc, etc...

Mas eu ainda não sei reconhecer cheiro de neve. Já de maresia eu entendo, é cheiro de mar. E boneco de neve eu nunca fiz, ajudei a fazer uns dois, mas sem muita desenvoltura. Já castelo de areia na praia, isso eu sei fazer, e com primor. Agora eu sei que existem duas maneiras bem diversas de se divertir na infância: como criança da neve, e como criança da praia. Eu fui uma criança da praia, que bom.

Engraçado que essa minha amiga russa me disse, depois de explicar as diferentes neves, que para ela praia é tudo igual, praia é praia, areia e mar. Então foi minha vez de explicar que cada praia é diferente de outra, que as areias são diferentes, que o mar se comporta de maneiras diferentes, que a maré muda, que algumas têm sargaço e outras não, que em algumas a areia é fofa e em outras é mais dura, que algumas têm mariscos, outras estrelas-do-mar, e mostrei uma foto da praia do amor em Pipa e outra de Tamandaré. Diferentes.

Agora eu tenho dentro de mim a sensação ainda maior de que meu coração e minha pele são mesmo muito tropicalientes.

Recife às seis horas da manhã.

Lyon às dez horas da manhã do mesmo dia.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Pra começar estou até me estranhando.

Precisando de inspiração para esse texto, decidi colocar alguma música que no momento me trouxesse alguma reação significativa. Escolhi num impulso natural a playlist da Inglaterra, aquilo que eu ouvi no início com estranheza e depois com muita animação durante meus 15 dias de férias: Papparazi, pokerface, Meet me halfway, Boom boom pow, Sexy bitch, Tic Tok, Bad romance, Just dance...

Oi?! Én?

Será que não se pode continuar o mesmo depois de passar por tanta coisa diferente?

Outras coisas também estão mudadas. Comecei a fazer novos desenhos numa noite de insônia e nunca mais parei. Nunca mais parei de fazer desenhos, eu digo. Já a insônia... depois da terapia dos desenhos passei a dormir até demais.

Comecei com as florzinhas habituais. E descobri que o papel e o lápis dão possibilidades diferentes daquelas com as quais eu estava acostumada com a tela e a tinta. A coisa mais diferente é o tempo do desenho, no papel é bem mais rápido.
Depois das flores comecei a ensaiar umas curvas com umas coisas escritas, qualquer coisa que viesse na cabeça, uma música, uma idéia, uma observação.

Depois das curvas vieram as ondas, os espirais, e ainda as coisas escritas... Até a descoberta da nova flor. Meio curva, meio espiral, meio planta, e as coisas escritas...

Enquanto estive de férias, além de ser contaminada pela música tocada nas boates européias e descobrir minha nova flor nos meus desenhos, eu pude usufruir de uma vida mais parecida com aquela que eu tinha em casa, em Olinda, no Brasil. Ter uma amiga-irmã brasileira ao lado como referência e um lar como abrigo me fez um bem maior do que eu imaginava.

Não consigo construir um texto coeso para explicar isso, não agora, não ainda, mas posso explicar assim:

Foi sair da matrix.

E além desse presente de fim de ano, ainda tive a felicidade gigantesca de receber as coisas que só um pai e uma mãe mesmo poderiam me enviar para enfeitar meu rosto com sorrisos de alegria. As coisinhas vindas do Brasil tiveram o poder de fazer minha volta para casa (Lyon) mais feliz e prazerosa.


Guia de viagem, livro em português (não dá pra parar de ler em português, é mais forte do que eu), brincos, florzinhas e coisinhas para o cabelo, saias e um vestido, um all star, meu café preferido... quem poderia ser mais feliz que eu?

Agora tomo café com mais prazer que antes, e ainda todos os dias duas vezes por dia, e agora com um toque de vício mais acentuado, porque tudo aqui toma proporções imensas, os sentimentos, as vontades, as reações, os vícios...

E agora até com os capuccinos estou me deliciando, visto que esse mês decidi me dar o luxo investir meu dinheiro em coisas que me fazem feliz por fazer referência à minha vida no Brasil, por isso comprei chantily e canela pra fazer capuccino, e pepino, salmão, kani e shoyo pra fazer sunomono, além de uns biscoitos de chocolate com côco que me lembram aquele meu preferido de lá.

E comprei mais cervejas que o normal porque enjoei de vinho, acho que vinho é uma coisa muito francesa para o momento.